Todo aparelho eletrônico, toda máquina, tem um manual de operação
do fabricante. A vida útil de determinada máquina ou aparelho
eletrônico depende da forma como as instruções do fabricante são
seguidas ou não. Os carros têm seu tipo de combustível, de óleo,
e uma série de outros requisitos a serem atendidos para evitar o
desgaste prematuro e até um dano grave. Ninguém em sã consciência
abastece um veículo movido à gasolina com álcool ou outra
substância.
Quando leio a narrativa do evangelho, vejo como Jesus amava
profundamente o ser humano. Por onde passava levantava o abatido,
curava o doente. Imagino o Mestre observando as pessoas, procurando
lançar vida na alma, restaurar o coração, afim de que sua vida
fluísse neles, como rios de água viva. Nesse contexto suas palavras
ganham sentido mais profundo ao tratar do aspecto moral. Ele diz
claramente: “Não pensem que eu vim para acabar com a lei de
Moisés ou com os ensinamentos dos profetas. Não vim para acabar com
eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que
isso é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado
da lei – nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até
o fim de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao
menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será
considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à
lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no
Reino do Céu.” (Mateus 5:17 a 19).
Assim como os manuais dos fabricantes têm as regras que garantem a
utilidade do produto por mais tempo em melhores condições, ao criar
o ser humano, Deus nos deu regras para nossa felicidade, saúde e
bem-estar. Os mandamentos a que Cristo se refere nesse discurso são
os dez mandamentos da lei moral. Ele enfatiza e aprofunda a aplicação
prática dos últimos, que tratam do nosso relacionamento com o
outro: Não matarás (Mateus 5:21 a 26), não adulterarás (Mateus
5:27 a 32), destacando a prática do amor ao próximo, mesmo quando
ele não merece isso, sem exaltação própria; ele mostra que a
forma como tratamos nosso próximo é determinante para sermos
perdoados por Deus (Mateus 5:33 a 6:18).
O
quarto mandamento da lei moral, que trata da santidade do sábado,
era carregado de regras no tempo de Cristo. Era proibido até
carregar uma agulha, andar mais que determinada quilometragem, entre
outros absurdos. Devido a esses exageros, escribas e fariseus estavam
constantemente criticando Jesus, acusando-o de quebrar a lei do
sábado. Jesus curava no sábado os doentes, e num dia em que estavam
longe de casa e sem comida aprovou a ação dos discípulos, ao
colherem trigo com as mãos para comer na hora, devido à fome,
quando passavam por uma plantação de trigo. (Mateus 12:1 a 8) Havia
uma lei em Israel que alguém poderia colher o que pudesse carregar
na mão para comer ao passar em uma plantação. Então o acusaram
por ser sábado. Jesus disse: “...a nossa lei
permite ajudar os outros no sábado” (Mateus 12:12).
Em nenhum momento ele invalidou o mandamento. Jamais o encontraremos
trabalhando para seu próprio sustento no sábado, violando o
mandamento (Êxodo 20:8 a 11), o que seria motivo de crítica
avassaladora, já que seus inimigos o criticavam até por curar
pessoas nesse dia. Há quem diga que Jesus estabeleceu a santificação
do domingo em lugar do sábado por causa da sua ressurreição, mas
essa é uma grande falácia, visto que não há nenhuma referência a
essa mudança nos evangelhos, pelo contrário, ele deu a cerimônia
da Santa Ceia como ritual a ser feito em memória de sua morte e
ressurreição (Lucas 22:14 a 20); e Paulo nos informa que o batismo
também foi dado pelo mestre como símbolo da sua aliança conosco
por meio da morte e ressurreição dele, de forma que morremos para
uma vida de pecado e vivemos uma nova vida em obediência à lei pela
graça de Jesus (Romanos 6:1 a 14). Os evangelhos, escritos alguns
anos depois da morte de Jesus, não registram nenhuma mudança em
relação ao sábado do quarto mandamento, antes enfatizam como todos
os seguidores do Mestre o respeitavam, tanto que sua mãe e outras
mulheres deixaram de ungir seu corpo na sexta-feira à tarde (dia da
preparação para o sábado) porque começava o sábado (o dia era
contado do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado) “E
no sábado elas descansaram, conforme a lei manda.” (Lucas 23:54 a
56) Foram
no domingo de manhã ao sepulcro para ungi-lo (Lucas 24:1).
Jesus estabelece a obediência aos mandamentos como fruto do nosso
amor a ele e a Deus, assim como ele mesmo fez (João 14:21 e 15:10),
isso “para que a sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja
completa” (João 15:11). Por meio dele, em seu poder, como
resultado de nosso relacionamento com ele, temos condições de
obedecer aos seus mandamentos, “porque sem ele nada podemos fazer”
(João 15:5). Dessa forma Jesus nos deixa muito claro que “o amor
ao próximo é o cumprimento da lei” (Romanos 13:8 a 10). Isso ele
demonstrou de forma bem enfática em sua vida, provando que a prática
da lei é a maior necessidade da humanidade.
Diferente das nossas leis, que embora sendo necessárias e úteis
podem ser também falhas e injustas, Jesus nos mostra por sua palavra
e prática de vida que a lei de Deus, expressa em seus dez
mandamentos, é santa, justa e boa (Romanos 7:12). Base do caráter
de Deus, tão sagrada quanto ele mesmo, é o conjunto de regras de
amor que Jesus nos deu para nossa felicidade completa (João 15:11).
“Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma!
Antes, confirmamos a lei.” (Romanos 3:31)
Paulo esclarece que somos pecadores e impotentes para obedecer a lei
moral, mas não precisamos ficar desesperados, porque Jesus pagou com
seu sangue por nossos pecados e nos perdoa. Dessa forma Deus nos
aceita e justifica por meio de Jesus e, mantendo comunhão com ele, o
Espírito Santo produz a obediência exigida pela lei em nós. Assim
nós conseguimos vencer o pecado, unindo nossos esforços ao poder
divino. Nos tornamos filhos de Deus e herdeiros da vida eterna.
(Romanos 7:14 a 8:17; Gálatas 5:22 e 23)
A
lei moral ainda é frequentemente confundida com a lei cerimonial que
regia os sacrifícios e a circuncisão, e constava de ordenanças a
respeito de rituais, várias festas e dias festivos comemorados pelos
judeus. Tudo isso era figura e sombra do sacrifício de Jesus e
deixou de valer com sua morte. As igrejas de Éfeso e da Galácia
estavam com sérios problemas porque os judeus cristãos queriam
impor a prática da lei cerimonial nessas igrejas. Por isso Paulo
escreveu as cartas de Efésios e Gálatas. Gálatas 3:17 nos diz
claramente que essa lei foi dada 430 anos depois de Abraão, por meio
de Moisés. A lei moral dos dez mandamentos, ao contrário, é
encontrada antes mesmo do pecado, no Gênesis, quando Deus descansa,
abençoa e santifica o sábado do quarto mandamento (Gênesis 2:1 a
3; Êxodo 20:8 a 11; Hebreus 4:1 a 11). Na Carta aos Gálatas Paulo
os exorta a viver em obediência à lei moral dos dez mandamentos,
fundamentada no amor (Gálatas 5:13 a 26), por meio da fé em Cristo
e não baseados na lei da circuncisão, com seus ritos e cerimonias
(Gálatas 5:2 a 12). Eles estavam deixando essa prática do evangelho
de Jesus para praticar a lei cerimonial e obter a salvação por seus
próprios méritos, porque alguns estavam pervertendo o evangelho de
Cristo. (Gálatas 1:6 a 9) A mesma situação encontramos no livro de
Efésios, onde ele enfatiza a prática da lei moral com o poder do
evangelho e explica a nulidade da lei cerimonial, que constava de
ordenanças (Efésios 2:15). Ele advertiu que, depois de sua morte,
na própria igreja se levantariam pessoas “falando
coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos
20:29 e 30)
Nosso
senhor Jesus Cristo é um exemplo perfeito de obediência aos
mandamentos da lei moral. Ele nos ensinou a fazer o mesmo. Os
apóstolos, como Jesus, ensinaram as pessoas a praticar os
mandamentos da lei moral pela fé em Cristo, com o poder do Espírito
Santo, amando o próximo. Assim como Jesus exaltou a lei moral acima
da tradição de seu tempo (Mateus 15:1 a 20), os apóstolos
exaltaram a mesma prática em detrimento da prática de cerimônias
sacrificais e da circuncisão, que os judeus queriam impor aos
cristãos, coisas que eram símbolos da morte de Jesus e tiveram seu
fim com a cruz, onde Jesus “aboliu a lei dos
mandamentos na forma de ordenanças” (Efésios 2:15)
(rituais de sacrifícios do santuário e festas baseadas na morte dos
cordeiros). Posteriormente, o culto e adoração a imagens dos
santos, a compra do perdão por meio de indulgências, a santificação
do domingo em lugar do sábado bíblico (decretado por Constantino em
321 d.C. e adotado pela igreja em 364 d.C., no Concílio da
Calcedônia), entre outras diversas práticas, foram adotadas pela
igreja cristã, cumprindo a profecia de Paulo (Atos 20:29 e 30). Os
dez mandamentos bíblicos foram então alterados (compare-se Êxodo
20:3 a 17 com o catecismo), omitindo-se o segundo mandamento (Êxodo
20:4 a 6), substituindo o sábado pelo domingo (Êxodo 4:8 a 11) e
dividindo-se o décimo em dois para suprir a falta do segundo (Êxodo
20:17). As igrejas que surgiram da reforma ainda ensinam a
santificação dominical em lugar do sábado, seguindo a tradição
da igreja de Roma.
Jesus nos dá o exemplo de fidelidade a Deus. Ele obedeceu aos
mandamentos, acima de tradições humanas, e nos disse para fazer o
mesmo por amor a ele (João 14:21). Somente por meio dele e seguindo
seu exemplo, podemos chegar a Deus. Ele é o caminho para o céu
(João 14:6). Os discípulos também nos ensinam a obedecer a Deus
acima de tudo (Atos 5:29). E João nos exorta a seguir o exemplo de
Jesus, vivendo como ele viveu, guardando seus mandamentos (I João
2:4 a 7). O evangelho nos apresenta a lei moral, regras dadas por
Deus desde o princípio do mundo para nossa própria felicidade e
vida. Ele é nosso criador e sabe o que é melhor para nossa vida.
A paz esteja contigo!
Referências
Bíblia – Nova Tradução na Linguagem de Hoje;
Almeida Revista e Atualizada.
Visões do Céu – Ellen G. White.

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