sexta-feira, 12 de abril de 2013

Regras?


Todo aparelho eletrônico, toda máquina, tem um manual de operação do fabricante. A vida útil de determinada máquina ou aparelho eletrônico depende da forma como as instruções do fabricante são seguidas ou não. Os carros têm seu tipo de combustível, de óleo, e uma série de outros requisitos a serem atendidos para evitar o desgaste prematuro e até um dano grave. Ninguém em sã consciência abastece um veículo movido à gasolina com álcool ou outra substância.
Quando leio a narrativa do evangelho, vejo como Jesus amava profundamente o ser humano. Por onde passava levantava o abatido, curava o doente. Imagino o Mestre observando as pessoas, procurando lançar vida na alma, restaurar o coração, afim de que sua vida fluísse neles, como rios de água viva. Nesse contexto suas palavras ganham sentido mais profundo ao tratar do aspecto moral. Ele diz claramente: “Não pensem que eu vim para acabar com a lei de Moisés ou com os ensinamentos dos profetas. Não vim para acabar com eles, mas para dar o seu sentido completo. Eu afirmo a vocês que isso é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da lei – nem a menor letra, nem qualquer acento. E assim será até o fim de todas as coisas. Portanto, qualquer um que desobedecer ao menor mandamento e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem obedecer à lei e ensinar os outros a fazerem o mesmo será considerado grande no Reino do Céu.” (Mateus 5:17 a 19). Assim como os manuais dos fabricantes têm as regras que garantem a utilidade do produto por mais tempo em melhores condições, ao criar o ser humano, Deus nos deu regras para nossa felicidade, saúde e bem-estar. Os mandamentos a que Cristo se refere nesse discurso são os dez mandamentos da lei moral. Ele enfatiza e aprofunda a aplicação prática dos últimos, que tratam do nosso relacionamento com o outro: Não matarás (Mateus 5:21 a 26), não adulterarás (Mateus 5:27 a 32), destacando a prática do amor ao próximo, mesmo quando ele não merece isso, sem exaltação própria; ele mostra que a forma como tratamos nosso próximo é determinante para sermos perdoados por Deus (Mateus 5:33 a 6:18).
O quarto mandamento da lei moral, que trata da santidade do sábado, era carregado de regras no tempo de Cristo. Era proibido até carregar uma agulha, andar mais que determinada quilometragem, entre outros absurdos. Devido a esses exageros, escribas e fariseus estavam constantemente criticando Jesus, acusando-o de quebrar a lei do sábado. Jesus curava no sábado os doentes, e num dia em que estavam longe de casa e sem comida aprovou a ação dos discípulos, ao colherem trigo com as mãos para comer na hora, devido à fome, quando passavam por uma plantação de trigo. (Mateus 12:1 a 8) Havia uma lei em Israel que alguém poderia colher o que pudesse carregar na mão para comer ao passar em uma plantação. Então o acusaram por ser sábado. Jesus disse: “...a nossa lei permite ajudar os outros no sábado” (Mateus 12:12). Em nenhum momento ele invalidou o mandamento. Jamais o encontraremos trabalhando para seu próprio sustento no sábado, violando o mandamento (Êxodo 20:8 a 11), o que seria motivo de crítica avassaladora, já que seus inimigos o criticavam até por curar pessoas nesse dia. Há quem diga que Jesus estabeleceu a santificação do domingo em lugar do sábado por causa da sua ressurreição, mas essa é uma grande falácia, visto que não há nenhuma referência a essa mudança nos evangelhos, pelo contrário, ele deu a cerimônia da Santa Ceia como ritual a ser feito em memória de sua morte e ressurreição (Lucas 22:14 a 20); e Paulo nos informa que o batismo também foi dado pelo mestre como símbolo da sua aliança conosco por meio da morte e ressurreição dele, de forma que morremos para uma vida de pecado e vivemos uma nova vida em obediência à lei pela graça de Jesus (Romanos 6:1 a 14). Os evangelhos, escritos alguns anos depois da morte de Jesus, não registram nenhuma mudança em relação ao sábado do quarto mandamento, antes enfatizam como todos os seguidores do Mestre o respeitavam, tanto que sua mãe e outras mulheres deixaram de ungir seu corpo na sexta-feira à tarde (dia da preparação para o sábado) porque começava o sábado (o dia era contado do pôr-do-sol de sexta-feira ao pôr-do-sol de sábado) “E no sábado elas descansaram, conforme a lei manda.” (Lucas 23:54 a 56) Foram no domingo de manhã ao sepulcro para ungi-lo (Lucas 24:1).
Jesus estabelece a obediência aos mandamentos como fruto do nosso amor a ele e a Deus, assim como ele mesmo fez (João 14:21 e 15:10), isso “para que a sua alegria esteja em nós e a nossa alegria seja completa” (João 15:11). Por meio dele, em seu poder, como resultado de nosso relacionamento com ele, temos condições de obedecer aos seus mandamentos, “porque sem ele nada podemos fazer” (João 15:5). Dessa forma Jesus nos deixa muito claro que “o amor ao próximo é o cumprimento da lei” (Romanos 13:8 a 10). Isso ele demonstrou de forma bem enfática em sua vida, provando que a prática da lei é a maior necessidade da humanidade.
Diferente das nossas leis, que embora sendo necessárias e úteis podem ser também falhas e injustas, Jesus nos mostra por sua palavra e prática de vida que a lei de Deus, expressa em seus dez mandamentos, é santa, justa e boa (Romanos 7:12). Base do caráter de Deus, tão sagrada quanto ele mesmo, é o conjunto de regras de amor que Jesus nos deu para nossa felicidade completa (João 15:11).
Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.” (Romanos 3:31) Paulo esclarece que somos pecadores e impotentes para obedecer a lei moral, mas não precisamos ficar desesperados, porque Jesus pagou com seu sangue por nossos pecados e nos perdoa. Dessa forma Deus nos aceita e justifica por meio de Jesus e, mantendo comunhão com ele, o Espírito Santo produz a obediência exigida pela lei em nós. Assim nós conseguimos vencer o pecado, unindo nossos esforços ao poder divino. Nos tornamos filhos de Deus e herdeiros da vida eterna. (Romanos 7:14 a 8:17; Gálatas 5:22 e 23)
A lei moral ainda é frequentemente confundida com a lei cerimonial que regia os sacrifícios e a circuncisão, e constava de ordenanças a respeito de rituais, várias festas e dias festivos comemorados pelos judeus. Tudo isso era figura e sombra do sacrifício de Jesus e deixou de valer com sua morte. As igrejas de Éfeso e da Galácia estavam com sérios problemas porque os judeus cristãos queriam impor a prática da lei cerimonial nessas igrejas. Por isso Paulo escreveu as cartas de Efésios e Gálatas. Gálatas 3:17 nos diz claramente que essa lei foi dada 430 anos depois de Abraão, por meio de Moisés. A lei moral dos dez mandamentos, ao contrário, é encontrada antes mesmo do pecado, no Gênesis, quando Deus descansa, abençoa e santifica o sábado do quarto mandamento (Gênesis 2:1 a 3; Êxodo 20:8 a 11; Hebreus 4:1 a 11). Na Carta aos Gálatas Paulo os exorta a viver em obediência à lei moral dos dez mandamentos, fundamentada no amor (Gálatas 5:13 a 26), por meio da fé em Cristo e não baseados na lei da circuncisão, com seus ritos e cerimonias (Gálatas 5:2 a 12). Eles estavam deixando essa prática do evangelho de Jesus para praticar a lei cerimonial e obter a salvação por seus próprios méritos, porque alguns estavam pervertendo o evangelho de Cristo. (Gálatas 1:6 a 9) A mesma situação encontramos no livro de Efésios, onde ele enfatiza a prática da lei moral com o poder do evangelho e explica a nulidade da lei cerimonial, que constava de ordenanças (Efésios 2:15). Ele advertiu que, depois de sua morte, na própria igreja se levantariam pessoas “falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles” (Atos 20:29 e 30)
Nosso senhor Jesus Cristo é um exemplo perfeito de obediência aos mandamentos da lei moral. Ele nos ensinou a fazer o mesmo. Os apóstolos, como Jesus, ensinaram as pessoas a praticar os mandamentos da lei moral pela fé em Cristo, com o poder do Espírito Santo, amando o próximo. Assim como Jesus exaltou a lei moral acima da tradição de seu tempo (Mateus 15:1 a 20), os apóstolos exaltaram a mesma prática em detrimento da prática de cerimônias sacrificais e da circuncisão, que os judeus queriam impor aos cristãos, coisas que eram símbolos da morte de Jesus e tiveram seu fim com a cruz, onde Jesus “aboliu a lei dos mandamentos na forma de ordenanças” (Efésios 2:15) (rituais de sacrifícios do santuário e festas baseadas na morte dos cordeiros). Posteriormente, o culto e adoração a imagens dos santos, a compra do perdão por meio de indulgências, a santificação do domingo em lugar do sábado bíblico (decretado por Constantino em 321 d.C. e adotado pela igreja em 364 d.C., no Concílio da Calcedônia), entre outras diversas práticas, foram adotadas pela igreja cristã, cumprindo a profecia de Paulo (Atos 20:29 e 30). Os dez mandamentos bíblicos foram então alterados (compare-se Êxodo 20:3 a 17 com o catecismo), omitindo-se o segundo mandamento (Êxodo 20:4 a 6), substituindo o sábado pelo domingo (Êxodo 4:8 a 11) e dividindo-se o décimo em dois para suprir a falta do segundo (Êxodo 20:17). As igrejas que surgiram da reforma ainda ensinam a santificação dominical em lugar do sábado, seguindo a tradição da igreja de Roma.
Jesus nos dá o exemplo de fidelidade a Deus. Ele obedeceu aos mandamentos, acima de tradições humanas, e nos disse para fazer o mesmo por amor a ele (João 14:21). Somente por meio dele e seguindo seu exemplo, podemos chegar a Deus. Ele é o caminho para o céu (João 14:6). Os discípulos também nos ensinam a obedecer a Deus acima de tudo (Atos 5:29). E João nos exorta a seguir o exemplo de Jesus, vivendo como ele viveu, guardando seus mandamentos (I João 2:4 a 7). O evangelho nos apresenta a lei moral, regras dadas por Deus desde o princípio do mundo para nossa própria felicidade e vida. Ele é nosso criador e sabe o que é melhor para nossa vida.
A paz esteja contigo!


Referências


Bíblia – Nova Tradução na Linguagem de Hoje; Almeida Revista e Atualizada.
Visões do Céu – Ellen G. White.

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