Num lugar estranho, longe
de casa, longe da família. Escravo. Sua pátria devastada. Sua cidade natal
queimada. Apenas três amigos estavam ali, partilhando a mesma sorte. O que você
faria diante de uma situação assim? Há pessoas que se matariam, outros se
lamentariam muito. Jovem, toda a vida pela frente. Um exilado. Ele, porém, era
diferente. Não caiu em depressão. Não ficou xingando seus algozes, nem maldizendo
a vida. Levantou a cabeça e lutou. Mas sua luta não foi com armas, nem com
conspirações. Nenhuma opção humana natural. Não. Absolutamente!
Daniel. Esse é o nome
dele. Um hebreu longe de sua família e de sua terra, vivendo na Babilônia a
partir do ano 605 a.C. Seus amigos chamavam-se Ananias, Misael e Azarias.
Apenas chegaram ali, já
enfrentaram um teste muito sério. E por mais incrível que pareça, tinha que ver
com… comida! O rei Nabucodonosor, muito bem-intencionado, mandou servir a todos
os jovens aprendizes sua própria comida. Eles comeriam o mesmo cardápio que era
servido na mesa real. Olha que honra diante de uma corte estranha! Só que não
para os nossos jovens em questão. Para eles era uma situação delicada e
embaraçosa.
Ocorre que Daniel e seus amigos
eram adoradores do Deus do céu. Hebreus de berço. Eles não comiam aquelas
carnes que foram tiradas do cardápio da humanidade desde o Gênesis (Gênesis
7:2), posteriormente relacionadas e especificadas para os israelitas no
deserto, após a saída do Egito (Levítico 11). É fato que Deus deu ao homem
alimentação vegetariana (Gênesis 1:29), posteriormente dando a carne como
alimento após a devastação da vegetação do planeta pelo dilúvio (Gênesis 9:3).
Hoje sabemos que a alimentação vegetariana é o ideal, pois supre todas as
necessidades do organismo e preserva melhor o mesmo. Rejuvenesce, proporciona
melhor acuidade mental e evita maior número de doenças. Daniel sabia que era o
melhor. Não tinha todo o conhecimento científico do assunto que temos hoje, mas
sabia porque tinha o conhecimento do Pentateuco. E compreendia que as regras de
Deus eram para evitar doenças e outros males que havia em outras nações
(Deuteronômio 7:11 a 15). Não admira que Daniel e seus amigos tenham escolhido
o regime vegetariano: o ideal.
Mas o fato é que eles
tinham o dilema de comer a comida que o rei comia, o que incluía não somente
carne de todo tipo como também bebida alcoólica. Ou eles eram fiéis ao seu Deus
e buscavam uma alternativa, ou deixavam de lado seus princípios e simplesmente
comiam. Afinal, estavam em uma terra estranha, não havia ninguém para ver o que
estavam fazendo. Nenhum sacerdote ou líder religioso. Nem os parentes. Aliás,
eles não eram os únicos hebreus ali. Havia muitos outros que foram deportados
com eles. E esses… esses estavam comendo! Os únicos a procurar uma alternativa
foram eles. Jovens corajosos, eles tomaram uma decisão surpreendente:
“Daniel resolveu que
não ficaria impuro por comer a comida e beber o vinho que o rei dava; por isso,
foi pedir a Aspenaz que o ajudasse a cumprir o que havia resolvido.” Daniel
1:8. NTLH
Mas Aspenaz tinha medo do
rei. Este havia determinado a comida deles, da melhor que ele tinha a oferecer.
De sua própria mesa. Seria uma afronta um pedido desses. Aspenaz temeu a pena
de morte, e com razão. Mas entendeu Daniel. Daniel foi então falar com o
encarregado da comida. Este teve a mesma preocupação. E se o rei ver que vocês
estão mais fracos e pálidos que os outros? Vou ser castigado. Daniel então
propôs um teste de dez dias, apenas com uma alimentação vegetariana e água para
beber. Com isso o oficial concordou. O teste de dez dias começou. No final a
surpresa.
“Passados os dez dias,
os quatro jovens israelitas estavam mais sadios e mais fortes do que os jovens
que comiam a comida do rei. Aí o guarda tirou a comida e o vinho que deviam ser
servidos aos quatro jovens e só lhes dava legumes para comer.” Daniel 1:15 e
16. NTLH
Que coisa linda. O fato é
que o organismo humano sempre foi o que é. E o que é bom para a saúde não mudou
com o tempo. É maravilhoso perceber que Deus nos criou e deixou a orientação
básica para nossa saúde e felicidade registrada. No início, na história do
Gênesis, o conhecimento era transmitido de pai a filho pela tradição oral.
Depois, a partir de Moisés, registrada no livro sagrado. Os princípios básicos
estão lá. Mas vamos deixar essa questão agora, afinal apresentei essa questão
apenas como uma introdução sobre esses jovens extraordinários. Que na verdade
de extraordinários não tinham nada mais que a fidelidade ao seu Deus acima de
tudo. E quando digo tudo é absolutamente tudo. Eles buscavam a excelência em
tudo.
Outro fato importante
nessa história é que Daniel e seus amigos foram muito honrados por sua
fidelidade. Veja só:
“Deus deu aos quatro
jovens um conhecimento profundo dos escritos e das ciências dos babilônios, mas
a Daniel deu também o dom de explicar visões e sonhos. (…) E entre todos não
havia quem se comparasse com Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Por isso,
ficaram trabalhando no palácio. (…) Os quatro eram dez vezes mais inteligentes
do que todos os sábios e adivinhos de toda a Babilônia.” Daniel 1:19 e 20. NTLH
Que bênção é seguir as
orientações divinas! Ele diz: “…respeitarei os que me respeitam, mas
desprezarei os que me desprezam.” I Samuel 2:30. NTLH
Esse foi o primeiro teste
deles naquela terra estranha. Ali sua fidelidade e sua fé em Deus e sua
orientação foram pela primeira vez provadas. Mas eles ainda enfrentariam outros
desafios.
Um belo dia o rei
Nabucodonosor mandou levantar uma estátua, e lá estavam aqueles três amigos de
Daniel. O rei deu ordem a todos para adorar a estátua de ouro. E eles ficaram
de pé! A coragem daqueles jovens é admirável, visto que a pena por não adorar
era ser queimado vivo! Havia uma fornalha, e o rei determinara que quem não
adorasse seria jogado no fogo. Mas aqueles três ficaram de pé! Então aqueles
que ali estavam, junto do rei, foram denunciar.
Sabe rei, existem uns
judeus que fizeram puco de ti e desprezaram tua ordem. Eles não adoram teus nem
prestam culto aos teus deuses e não adoraram a estátua que mandaste construir
em tua honra. O rei rapidamente mandou chamar os três. Eles vieram. Então ele
disse que não tinha problema, eles podiam ficar tranquilos que ele mandaria a
fanfarra real tocar novamente e quando ouvissem a música, eles poderiam adorar
e estava tudo certo.
Agora a resposta deles é
digna de nota:
“Ó rei, nós não vamos
nos defender. Pois, se o nosso Deus, a quem adoramos, quiser, ele poderá nos
salvar da fornalha e nos livrar do seu poder, ó rei. E mesmo que o nosso Deus
não nos salve, o senhor pode ficar sabendo que não prestaremos culto ao seu
deus, nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor mandou fazer.” Daniel 3:16
a 18. NTLH
O rei ficou tão furioso
que mandou aquecer sete vezes mais o fogo e jogar os três lá dentro. Os guardas
que os jogaram morreram somente com o calor da porta da fornalha. E Deus
resolveu livrar aqueles jovens. Além disso, Jesus esteve lá com eles. O rei viu
um quarto homem ali que era semelhante ao filho dos deuses. Então os chamou
para fora e honrou a eles e ao Deus deles.
Entre a vida e a morte
aqueles três escolheram a morte para honrar a Deus. Fiéis até a morte.
Lembro-me das palavras do próprio Cristo:
“Quem ama o seu pai ou
a sua mãe mais do que a mim não merece ser meu seguidor. Quem ama o seu filho
ou a sua filha mais do que a mim não merece ser meu seguidor. Não serve para
ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me
acompanhar. Quem procura os seus próprios interesses nunca terá a vida
verdadeira; mas quem esquece a si mesmo, porque é meu seguidor, terá a vida
verdadeira.” Mateus 10:37 a 39
“Quem ama a sua vida
não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo,
ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde
eu estiver, ali também estará este meu servo. E o meu Pai honrará todos os que
me servem.” joão 12:25 e 26
“Ninguém tem maior
amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles.” João 15:13
“Eu afirmo a vocês, meus
amigos: não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas depois não podem fazer
mais nada. Vou mostrar a vocês de quem devem ter medo: tenham medo de Deus,
que, depois de matar o corpo, tem poder para jogar a pessoa no inferno. Sim,
repito: tenham medo de Deus. Por acaso não é verdade que cinco passarinhos são
vendidos por algumas moedinhas? No entanto Deus não esquece nenhum deles. Até
os fios dos cabelos de vocês estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês
valem mais do que muitos passarinhos!” Lucas 12:4 a 7. NTLH
Queridos, Deus nos amou
de tal forma que enviou Jesus para sofrer a morte que era nossa e nos abrir
novamente as portas da eternidade. Cristo deu a vida por seus amigos. E joão
entendeu que seus discípulos devem dar a vida pelos irmãos. I João 3:16
Tempos difíceis esses em
que vivemos. Maldade e corrupção por todo lugar. Mas ao longo da história eu
percebo que não foi muito diferente. Daniel e seus amigos tiveram de escolher
entre a vida e a morte para permanecer fiéis. E eles foram fiéis até a morte.
Fiéis a Deus acima de tudo. Fiéis em seu trabalho, na política de Babilônia.
Eles trabalhavam no palácio. Que exemplo!
Hoje uma questão que
afeta todo ser humano mais cedo ou mais tarde em toda esfera social é a mesma
que aqueles jovens destemidos enfrentaram: ser fiéis aos princípios, à
verdadeira justiça, mesmo diate da morte. Ou ceder. Ser cristão e seguir a
Cristo é também preferir morrer a se deixar corromper ou compactuar com o
crime.
Mas quem está disposto a
pagar o preço? Esse é o preço do discipulado. A promessa bíblica é essa que
Jesus nos deixou:
“Quem ama a sua vida
não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo,
ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde
eu estiver, ali também estará este meu servo. E o meu Pai honrará todos os que
me servem.” joão 12:25 e 26. NTLH
Jesus viveu e morreu por
um mundo mais humano e justo, onde as pessoas se importem mais com os
semelhantes, e nos garante um futuro eterno com ele em breve. Quem está
disposto a deixar tudo e segui-lo? Mesmo até a morte? A questão é que deixar de
ser fiel a Deus é ganhar a vida aqui, mas perder a vida eterna. E ser fiel
seguindo a Cristo até a morte aqui é garantir aquela vida e ter sua consciência
tranquila. A decisão é pessoal. Paradoxal: ganhar o mundo todo e perder a alma
adianta? E perder o mundo mas ganhar a alma?
O fato é que o evangelho
de Cristo implica em uma cruz. Daniel e seus amigos eram fiéis e preferiam
morrer a se deixar corromper ou compactuar com coisas erradas. Jesus também.
Houve muitos outros:
“…os quais pela fé
conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de
promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do
fio da espada; da fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na batalha e
puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição,
tiveram de volta os seus mortos. Uns foram torturados e recusaram ser
libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior; outros enfrentaram
zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão,
apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram
errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e
maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e
montes, pelas cavernas e grutas. Todos estes receberam bom testemunho por meio
da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia
planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados.”
Hebreus 11:33 a 40 – grifo meu. NVI
Paulo também morreu em
Roma porque era um arauto do evangelho. E de lá para cá muitos outros deram a
vida por Cristo. Não posso afirmar que esteja pronto para isso, mas tenho
provado e visto que esse Deus que se revela pelas Escrituras é real. Ele já me
salvou literalmente algumas vezes. E se algum dia tiver de deparar uma situação
assim, busco a ele a fim de que, nesse dia, eu esteja pronto para honrá-lo como
ele merece.
Há uma citação de uma
autora norte-americana nesse tema que gosto muito:
“A maior necessidade
do mundo é a de homens – homens que não se comprem nem se vendam; homens que no
íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o
pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever
como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda
que caiam os céus.” Educação, capítulo 7 – Ellen G. White
A paz de Cristo esteja
contigo!
Referências
Bíblia –
A Bíblia em Ordem Cronológica; Nova Tradução na Linguagem de Hoje; Nova Versão
Internacional.
Educação
– Ellen G. White. Ed.: Casa Publicadora Brasileira.



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