segunda-feira, 9 de março de 2015

Entre a Vida e a Morte


Num lugar estranho, longe de casa, longe da família. Escravo. Sua pátria devastada. Sua cidade natal queimada. Apenas três amigos estavam ali, partilhando a mesma sorte. O que você faria diante de uma situação assim? Há pessoas que se matariam, outros se lamentariam muito. Jovem, toda a vida pela frente. Um exilado. Ele, porém, era diferente. Não caiu em depressão. Não ficou xingando seus algozes, nem maldizendo a vida. Levantou a cabeça e lutou. Mas sua luta não foi com armas, nem com conspirações. Nenhuma opção humana natural. Não. Absolutamente!
Daniel. Esse é o nome dele. Um hebreu longe de sua família e de sua terra, vivendo na Babilônia a partir do ano 605 a.C. Seus amigos chamavam-se Ananias, Misael e Azarias.
Apenas chegaram ali, já enfrentaram um teste muito sério. E por mais incrível que pareça, tinha que ver com… comida! O rei Nabucodonosor, muito bem-intencionado, mandou servir a todos os jovens aprendizes sua própria comida. Eles comeriam o mesmo cardápio que era servido na mesa real. Olha que honra diante de uma corte estranha! Só que não para os nossos jovens em questão. Para eles era uma situação delicada e embaraçosa.
Ocorre que Daniel e seus amigos eram adoradores do Deus do céu. Hebreus de berço. Eles não comiam aquelas carnes que foram tiradas do cardápio da humanidade desde o Gênesis (Gênesis 7:2), posteriormente relacionadas e especificadas para os israelitas no deserto, após a saída do Egito (Levítico 11). É fato que Deus deu ao homem alimentação vegetariana (Gênesis 1:29), posteriormente dando a carne como alimento após a devastação da vegetação do planeta pelo dilúvio (Gênesis 9:3). Hoje sabemos que a alimentação vegetariana é o ideal, pois supre todas as necessidades do organismo e preserva melhor o mesmo. Rejuvenesce, proporciona melhor acuidade mental e evita maior número de doenças. Daniel sabia que era o melhor. Não tinha todo o conhecimento científico do assunto que temos hoje, mas sabia porque tinha o conhecimento do Pentateuco. E compreendia que as regras de Deus eram para evitar doenças e outros males que havia em outras nações (Deuteronômio 7:11 a 15). Não admira que Daniel e seus amigos tenham escolhido o regime vegetariano: o ideal.
Mas o fato é que eles tinham o dilema de comer a comida que o rei comia, o que incluía não somente carne de todo tipo como também bebida alcoólica. Ou eles eram fiéis ao seu Deus e buscavam uma alternativa, ou deixavam de lado seus princípios e simplesmente comiam. Afinal, estavam em uma terra estranha, não havia ninguém para ver o que estavam fazendo. Nenhum sacerdote ou líder religioso. Nem os parentes. Aliás, eles não eram os únicos hebreus ali. Havia muitos outros que foram deportados com eles. E esses… esses estavam comendo! Os únicos a procurar uma alternativa foram eles. Jovens corajosos, eles tomaram uma decisão surpreendente:
“Daniel resolveu que não ficaria impuro por comer a comida e beber o vinho que o rei dava; por isso, foi pedir a Aspenaz que o ajudasse a cumprir o que havia resolvido.” Daniel 1:8. NTLH
Mas Aspenaz tinha medo do rei. Este havia determinado a comida deles, da melhor que ele tinha a oferecer. De sua própria mesa. Seria uma afronta um pedido desses. Aspenaz temeu a pena de morte, e com razão. Mas entendeu Daniel. Daniel foi então falar com o encarregado da comida. Este teve a mesma preocupação. E se o rei ver que vocês estão mais fracos e pálidos que os outros? Vou ser castigado. Daniel então propôs um teste de dez dias, apenas com uma alimentação vegetariana e água para beber. Com isso o oficial concordou. O teste de dez dias começou. No final a surpresa.
“Passados os dez dias, os quatro jovens israelitas estavam mais sadios e mais fortes do que os jovens que comiam a comida do rei. Aí o guarda tirou a comida e o vinho que deviam ser servidos aos quatro jovens e só lhes dava legumes para comer.” Daniel 1:15 e 16. NTLH
Que coisa linda. O fato é que o organismo humano sempre foi o que é. E o que é bom para a saúde não mudou com o tempo. É maravilhoso perceber que Deus nos criou e deixou a orientação básica para nossa saúde e felicidade registrada. No início, na história do Gênesis, o conhecimento era transmitido de pai a filho pela tradição oral. Depois, a partir de Moisés, registrada no livro sagrado. Os princípios básicos estão lá. Mas vamos deixar essa questão agora, afinal apresentei essa questão apenas como uma introdução sobre esses jovens extraordinários. Que na verdade de extraordinários não tinham nada mais que a fidelidade ao seu Deus acima de tudo. E quando digo tudo é absolutamente tudo. Eles buscavam a excelência em tudo.
Outro fato importante nessa história é que Daniel e seus amigos foram muito honrados por sua fidelidade. Veja só:
“Deus deu aos quatro jovens um conhecimento profundo dos escritos e das ciências dos babilônios, mas a Daniel deu também o dom de explicar visões e sonhos. (…) E entre todos não havia quem se comparasse com Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Por isso, ficaram trabalhando no palácio. (…) Os quatro eram dez vezes mais inteligentes do que todos os sábios e adivinhos de toda a Babilônia.” Daniel 1:19 e 20. NTLH
Que bênção é seguir as orientações divinas! Ele diz: “…respeitarei os que me respeitam, mas desprezarei os que me desprezam.” I Samuel 2:30. NTLH
Esse foi o primeiro teste deles naquela terra estranha. Ali sua fidelidade e sua fé em Deus e sua orientação foram pela primeira vez provadas. Mas eles ainda enfrentariam outros desafios.
Um belo dia o rei Nabucodonosor mandou levantar uma estátua, e lá estavam aqueles três amigos de Daniel. O rei deu ordem a todos para adorar a estátua de ouro. E eles ficaram de pé! A coragem daqueles jovens é admirável, visto que a pena por não adorar era ser queimado vivo! Havia uma fornalha, e o rei determinara que quem não adorasse seria jogado no fogo. Mas aqueles três ficaram de pé! Então aqueles que ali estavam, junto do rei, foram denunciar.
Sabe rei, existem uns judeus que fizeram puco de ti e desprezaram tua ordem. Eles não adoram teus nem prestam culto aos teus deuses e não adoraram a estátua que mandaste construir em tua honra. O rei rapidamente mandou chamar os três. Eles vieram. Então ele disse que não tinha problema, eles podiam ficar tranquilos que ele mandaria a fanfarra real tocar novamente e quando ouvissem a música, eles poderiam adorar e estava tudo certo.
Agora a resposta deles é digna de nota:
“Ó rei, nós não vamos nos defender. Pois, se o nosso Deus, a quem adoramos, quiser, ele poderá nos salvar da fornalha e nos livrar do seu poder, ó rei. E mesmo que o nosso Deus não nos salve, o senhor pode ficar sabendo que não prestaremos culto ao seu deus, nem adoraremos a estátua de ouro que o senhor mandou fazer.” Daniel 3:16 a 18. NTLH
O rei ficou tão furioso que mandou aquecer sete vezes mais o fogo e jogar os três lá dentro. Os guardas que os jogaram morreram somente com o calor da porta da fornalha. E Deus resolveu livrar aqueles jovens. Além disso, Jesus esteve lá com eles. O rei viu um quarto homem ali que era semelhante ao filho dos deuses. Então os chamou para fora e honrou a eles e ao Deus deles.
Entre a vida e a morte aqueles três escolheram a morte para honrar a Deus. Fiéis até a morte. Lembro-me das palavras do próprio Cristo:
“Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais do que a mim não merece ser meu seguidor. Quem ama o seu filho ou a sua filha mais do que a mim não merece ser meu seguidor. Não serve para ser meu seguidor quem não estiver pronto para morrer como eu vou morrer e me acompanhar. Quem procura os seus próprios interesses nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo, porque é meu seguidor, terá a vida verdadeira.” Mateus 10:37 a 39
“Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver, ali também estará este meu servo. E o meu Pai honrará todos os que me servem.” joão 12:25 e 26
“Ninguém tem maior amor pelos seus amigos do que aquele que dá a sua vida por eles.” João 15:13
“Eu afirmo a vocês, meus amigos: não tenham medo daqueles que matam o corpo, mas depois não podem fazer mais nada. Vou mostrar a vocês de quem devem ter medo: tenham medo de Deus, que, depois de matar o corpo, tem poder para jogar a pessoa no inferno. Sim, repito: tenham medo de Deus. Por acaso não é verdade que cinco passarinhos são vendidos por algumas moedinhas? No entanto Deus não esquece nenhum deles. Até os fios dos cabelos de vocês estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos!” Lucas 12:4 a 7. NTLH
Queridos, Deus nos amou de tal forma que enviou Jesus para sofrer a morte que era nossa e nos abrir novamente as portas da eternidade. Cristo deu a vida por seus amigos. E joão entendeu que seus discípulos devem dar a vida pelos irmãos. I João 3:16
Tempos difíceis esses em que vivemos. Maldade e corrupção por todo lugar. Mas ao longo da história eu percebo que não foi muito diferente. Daniel e seus amigos tiveram de escolher entre a vida e a morte para permanecer fiéis. E eles foram fiéis até a morte. Fiéis a Deus acima de tudo. Fiéis em seu trabalho, na política de Babilônia. Eles trabalhavam no palácio. Que exemplo!
Hoje uma questão que afeta todo ser humano mais cedo ou mais tarde em toda esfera social é a mesma que aqueles jovens destemidos enfrentaram: ser fiéis aos princípios, à verdadeira justiça, mesmo diate da morte. Ou ceder. Ser cristão e seguir a Cristo é também preferir morrer a se deixar corromper ou compactuar com o crime.
Mas quem está disposto a pagar o preço? Esse é o preço do discipulado. A promessa bíblica é essa que Jesus nos deixou:
“Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver, ali também estará este meu servo. E o meu Pai honrará todos os que me servem.” joão 12:25 e 26. NTLH
Jesus viveu e morreu por um mundo mais humano e justo, onde as pessoas se importem mais com os semelhantes, e nos garante um futuro eterno com ele em breve. Quem está disposto a deixar tudo e segui-lo? Mesmo até a morte? A questão é que deixar de ser fiel a Deus é ganhar a vida aqui, mas perder a vida eterna. E ser fiel seguindo a Cristo até a morte aqui é garantir aquela vida e ter sua consciência tranquila. A decisão é pessoal. Paradoxal: ganhar o mundo todo e perder a alma adianta? E perder o mundo mas ganhar a alma?
O fato é que o evangelho de Cristo implica em uma cruz. Daniel e seus amigos eram fiéis e preferiam morrer a se deixar corromper ou compactuar com coisas erradas. Jesus também. Houve muitos outros:
“…os quais pela fé conquistaram reinos, praticaram a justiça, alcançaram o cumprimento de promessas, fecharam a boca de leões, apagaram o poder do fogo e escaparam do fio da espada; da fraqueza tiraram forças, tornaram-se poderosos na batalha e puseram em fuga exércitos estrangeiros. Houve mulheres que, pela ressurreição, tiveram de volta os seus mortos. Uns foram torturados e recusaram ser libertados, para poderem alcançar uma ressurreição superior; outros enfrentaram zombaria e açoites; outros ainda foram acorrentados e colocados na prisão, apedrejados, serrados ao meio, postos à prova, mortos ao fio da espada. Andaram errantes, vestidos de pele de ovelhas e de cabras, necessitados, afligidos e maltratados. O mundo não era digno deles. Vagaram pelos desertos e montes, pelas cavernas e grutas. Todos estes receberam bom testemunho por meio da fé; no entanto, nenhum deles recebeu o que havia sido prometido. Deus havia planejado algo melhor para nós, para que conosco fossem eles aperfeiçoados.” Hebreus 11:33 a 40 – grifo meu. NVI
Paulo também morreu em Roma porque era um arauto do evangelho. E de lá para cá muitos outros deram a vida por Cristo. Não posso afirmar que esteja pronto para isso, mas tenho provado e visto que esse Deus que se revela pelas Escrituras é real. Ele já me salvou literalmente algumas vezes. E se algum dia tiver de deparar uma situação assim, busco a ele a fim de que, nesse dia, eu esteja pronto para honrá-lo como ele merece.
Há uma citação de uma autora norte-americana nesse tema que gosto muito:
“A maior necessidade do mundo é a de homens – homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola o é ao polo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus.” Educação, capítulo 7 – Ellen G. White
A paz de Cristo esteja contigo!

Referências
Bíblia – A Bíblia em Ordem Cronológica; Nova Tradução na Linguagem de Hoje; Nova Versão Internacional.

Educação – Ellen G. White. Ed.: Casa Publicadora Brasileira.

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